Setembro Cores e flores: A Química que atrai
- Hugo Braibante
- 5 de set.
- 4 min de leitura
Atualizado: 6 de set.
Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos Quero ver brotar o perdão. A lição sabemos de cor Só nos resta aprender
Quando sentimos o perfume de uma rosa ou nos encantamos com o roxo vibrante de um ipê, dificilmente pensamos que tudo isso é resultado de moléculas invisíveis. Mas por trás da beleza das flores existe uma verdadeira sinfonia química, que cuidadosamente ajustada pela natureza serve para atrair seus principais aliados: os polinizadores.
O aroma das flores são mensagens químicas no ar
Muitos animais noturnos, como morcegos e mariposas, não conseguem se guiar pelas cores. Por isso, dependem do cheiro das flores para encontrá-las. Esses perfumes são resultado da presença de compostos orgânicos voláteis, são pequenas moléculas que se espalham facilmente pelo ar.
Exemplos:
Cis-jasmona → responsável pelo aroma marcante do jasmim. O extrato natural contém apenas a forma cis, enquanto o material sintético é muitas vezes uma mistura que contém ambas as formas,(cis ou Z e o isômero trans ou E) tendo o cis (fig ao lado ) como forma predominante. Ambas as formas têm odores e propriedades químicas semelhantes. Curiosidade: para produzir 1 kg de óleo essencial de jasmim de forma natural, seriam necessárias 8 milhões de flores! A química nos ajuda a recriar esse aroma em laboratório sem devastar plantações inteiras.

cis-Jasmona Geraniol e citronelol → principais moléculas do óleo de rosas. O geraniol é um composto químico natural, um tipo de álcool terpênico, que se encontra nos óleos essenciais de diversas plantas aromáticas, como gerânio, rosas, citronela e capim-limão. Esta substância tem um odor agradável, similar ao das rosas, e utilizada como ingrediente em perfumes e cosméticos. O Geraniol também é valorizado pelas suas propriedades inseticidas e como um potencial agente terapêutico, com estudos indicando atividades anti-inflamatórias, antioxidantes e antimicrobianas.

Citronelol, ou di-hidrogeraniol, é um mono terpeno acíclico natural. O (+)-citronelol, que é encontrado no óleo de citronela, incluindo o Cymbopogon nardus (50%), é o isômero mais comum. O (−)-citronelol é encontrado em óleos de rosas (18-55%) e de gerânios
Aromatizante sintetizado com odor de rosas

2-Feniletanol → pode ser sintetizado em laboratório e possui o mesmo aroma do óleo de rosas. pode ser sintetizado em laboratório e possui o mesmo aroma do óleo de rosas. Esse álcool é incolor e ocorre amplamente na natureza.
É um álcool aromático com aroma de rosas de grande interesse para a indústria alimentícia, utilizado na aromatização de vinhos, chás, cafés, pães e na indústria farmacêutica, é o segundo álcool mais utilizado para a produção de perfumarias e cosméticos.
O processo de extração natural do 2-fenil-etanol é um processo de elevado custo e com baixo rendimento, por isso vem sendo estudados métodos de extração com menor custo e maior eficiência
As cores das flores: pigmentos encantam olhos humanos e os polinizadores
As cores vibrantes das flores também têm assinatura química:
Flavonoides (antocianinas) → Flavonoides (antocianinas) → responsáveis pelas tonalidades rosa, vermelha, violeta e azul. São eles que dão a cor marcante aos ipês roxos e violetas.
As antocianinas são pigmentos fenólicos glicosilados, derivados do cátion flavílio, responsáveis pelas cores vermelhas, roxas e azuis em frutas, flores e vegetais. A estrutura química, com grupos hidroxila, metoxila e açúcar, as torna solúveis em água e polar. A cor dessas moléculas é altamente influenciada pelo pH do ambiente, que afeta a estrutura do cátion flavílio, alterando a absorção de luz e, consequentemente, a cor visível. As seis antocianidinas (agliconas) mais comuns na natureza, diferem entre si pelo grau de hidroxilação e metoxilação dos seus anéis. As antocianinas encontram-se na natureza na forma glicosilada em uma ou mais posições por diferentes tipos de açúcares (glucose, ramnose, xilose, galactose etc.).

Freitas, V., (2019) O mundo colorido das antocianinas, Rev. Ciência Elem., V7(2):017
Você sabia? As antocianinas mudam de cor conforme o pH do meio: em meio ácido ficam avermelhadas, em meio básico tendem ao azul. É por isso que algumas flores podem mudar de tonalidade dependendo do solo.
Carotenoides → pigmentos amarelos, laranjas e vermelhos.Não existe uma única fórmula molecular para "carotenoides", pois são uma classe de compostos com mais de 600 estruturas diferentes; no entanto, a fórmula molecular geral para os carotenos (um tipo de carotenoide) é C₄₀H₅₆. Exemplos específicos incluem o beta-caroteno (C₄₀H₅₆) e o licopeno (C₄₀H₅₆).

Clorofilas → verde, presente nas folhas, mas também com funções em algumas flores. A fórmula química geral da clorofila é C₅₅H₇₂O₅N₄Mg, para a clorofila a, e a da clorofila b é C₅₅H₇₀O₆N₄Mg. Estas moléculas são pigmentos verdes encontrados nas plantas, com um átomo central de magnésio (Mg) ligado a uma complexa estrutura orgânica chamada anel de clorina.

Atração aos polinizadores:
As flores não “pensam”, mas evoluíram para agradar quem realmente importa: seus polinizadores.
Abelhas → preferem flores amarelas e azuis. Além disso, conseguem enxergar ultravioleta, uma região invisível para nós.
Beija-flores → são atraídos pelo vermelho vivo, como o dos hibiscos.
Mariposas e morcegos → atuam no escuro, guiando-se exclusivamente pelo perfume.
Assim, cada pigmento e cada molécula aromática cumprem um papel essencial na perpetuação das espécies.
Conclusão
O perfume e as cores que tanto nos encantam são, na verdade, estratégias químicas de sobrevivência das plantas. A química revela que não há acaso: cada molécula aromática, cada pigmento colorido, existe para construir pontes invisíveis entre flores e polinizadores.
Da próxima vez que sentir o cheiro de um jasmim ou admirar um ipê florido, lembre-se: você está respirando e contemplando a pura química do cotidiano.















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